Vendo e ouvindo a Connie Talbot fiquei enternecida com esta pequenina boneca de apenas seis anos, qual pequenina ave canora cuja melodia nos entra no coração.
Veio-me de novo, e sempre, à lembrança o Rui Pedro, a Maddie, e todas as crianças a quem foi negada a vida em vida, a quem foi negado o futuro e a felicidade de serem precisamente crianças no tempo dos sonhos e dos risos alegres.
Este eterno e maravilhoso poema do Augusto Gil são memórias da minha infância, sentada na minha carteira do colégio a lê-lo, pensando nos meninos e meninas como eu mas que não tinham a minha sorte. Nessa altura ainda não sabia que outros caminhos ainda mais negros existiam... porque era apenas uma criança.
BALADA DA NEVE
Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.
É talvez a ventania
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho
Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza
Fui ver.
A neve caía do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho.
Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança
E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...
Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?
Porque padecem assim?
E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim,
fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
e cai no meu coração.
Augusto Gil