Nem sempre são os anos que mais pesam…
Ou a enfadonha rotina diária que nos emudece…
Nem é sequer o peso da vida que nos vence…
Há quem viva… há quem vá vivendo…
Fardos mais leves… ou mais pesados…
Há quem fique agrilhoado ao passado…
Há quem viva apenas o presente…
Há quem exista na ilusão do futuro…
Mas, de todos os pesos, de todos os fardos…
De todos os negrumes que nos invadem…
De todas as ventanias que nos abalam…
Maior de todos… é o peso da alma…
Que rasgada, torturada, mas também infinda…
Guarda em si toda uma vida, todas as imagens…
Todos os sons, todas as chegadas, todas as partidas…
Tem a alma a triste tarefa de fazer sorrir, de fazer chorar…
De lembrar que do Passado fizemos um novo Presente…
Para podermos querer um outro Futuro…
Dividida em farrapos mil ou em sorrisos de prata…
A ela cabe em todas as fracções do tempo…
Dobrar o cabo das tormentas dos sentires…
Vencer um eterno Adamastor que nos aflige…
Ser o papel principal do nosso Eu…
Ser a fiel guardadora do que somos…
A dor de ser a mãe de todas as dores…
Um pranto banhado por Sol e brumas…
Um mar de chamas que nos queima as entranhas…
Um firmamento de estrelas perdidas…
Um olhar que nos leva sempre mais longe…
Uma noite de profundo breu e gelo… ou…
Uma vereda florida e perfumada…
Onde suaves cânticos nos embalam…
Mitigando-nos parcamente os lamentos…
E ainda que cansada, exangue e ferida…
Guerreira de todas as batalhas perdidas ou vencidas…
Fortaleza que ergue ou derruba as muralhas do silêncio…
Cabe à alma… ser a Alma de todas as coisas…