segunda-feira, 16 de julho de 2007

Noites


Estas noites em que mal deito a cabeça no travesseiro e já o sono se espanta com os pensamentos que se atropelam, seguidos como as cenas de um filme, este filme que é a minha vida e do qual desconheço o epílogo, são as que mais me custam a passar, aqui fechada a sete chaves sem conseguir sair desta jaula que me prende.

Será que vou a meio ou estarei quase no fim do filme? Como ignoro quantos anos, meses, dias, horas ou segundos faltam para mudar de personagem não tenho outro remédio a não ser continuar nesta luta quase inglória para não perder o fio condutor da sanidade mental. Ou então já estou louca e não sei, quem sabe a realidade já me passou ao lado e vivo num mundo desconhecido com a sensação que tenho os pés assentes na terra.

Por vezes é tão mais fácil pensar, pensar e pensar! Mas quando tentamos escrever o muito que nos assola e invade o espírito parece que faltam as palavras ou talvez seja porque bloqueamos devido à dor que nos queima por dentro! A mim dói-me tanta coisa, talvez demais para suportar com aquele sorriso que tento manter para não me queixar. Sim, porque há sempre quem sofra mais do que eu, quem viva um verdadeiro inferno e não tenha um segundo de paz. Mas que posso eu fazer se ao tentar equilibrar os dois pratos da balança há sempre um que está desnivelado, há sempre alguém ou algo que falta? Como e onde encontro as respostas para as minhas perguntas? E pergunto tanto porquê, porquê? Porque quero algo tão simples e não tenho, mas porquê? Esta dor que me rasga a alma, que me faz isolar de tudo, que não me deixa sossegar, está sempre presente, por vezes escondida, por vezes tão visível, quase um corpo de carne e osso.

Quantas vezes afinal temos de fazer contas à vida e para quê? É para mais uma vez termos a noção de que somos tão frágeis que basta uma aragem mais forte para nos deitar abaixo? Quem não sabe já disso ou haverá ainda quem pense que é tão forte que nada o atinge? Se eu já vivi a amargura para que quero agora ter mais noção do que é? Conheço-a, sentia-a bem na pele e ainda sinto. E se eu sei como a vida é, se eu sei!

Como se não bastassem as nossas incertezas e as nossas batalhas internas, ainda há quem cruze o nosso caminho para nos magoar com todas as armas possíveis, com palavras que nos tiram a cor do rosto, que nos gelam o sangue, que nos atiram para um lugar ainda mais negro. Seremos também culpados de tudo o que não fazemos?

Buscamos a felicidade incessantemente, seguimos sonhos de todas as cores, procuramos na linha do horizonte o lugar que deverá ser o nosso refúgio, mas parece que se nos escapa por entre os dedos à velocidade da luz e quanto mais sentido queremos dar a tudo o que nos rodeia mais parece que não existe. Sabemos que não podemos perder a vontade mas é a vontade que se perde de nós, rindo da nossa fragilidade, da nossa incerteza, desta fraqueza humana que nos é característica.

Vamo-nos desligando da matéria para viver algo mais importante mas é só no silêncio da noite que quase atingimos algumas respostas, porque a luz do dia por vezes cega-nos. E se é um bem poder ver a luz do Sol também se torna numa provação tão dolorosa como a dor que quase nos impede de respirar, tudo gira à nossa volta e nós num estado de letargia difícil de ultrapassar, querendo fugir para o lugar mais longe e isolado que houver. Se o conseguíssemos depois ainda nos queixávamos mais porque a solidão é um castigo que nos deixa cicatrizes. A solidão que sentimos quando estamos acompanhados é a verdadeira mas a que sentimos por escolha própria não deixa de ser igualmente má, deixa-nos sem acção e sem desejo, deixa-nos à deriva num mar que nada tem de azul.

Sei que todas estas fases são passageiras mas quando as vivemos tornam-se numa tortura diária e parecem um livro que nunca acaba. Enquanto vivemos neste turbilhão de ideias nada do que nos pareça lógico tem realmente lógica, menos ainda ao romper do dia com os barulhos da cidade que começa a despertar. É a realidade lá fora a dizer-nos que perdidos ou não temos o nosso papel a fazer, que nada espera por nós e que se não seguirmos no comboio da vida ficamos apeados algures numa estação da nossa existência.

Se nada daquilo em que acredito se concretizar um dia, se não passarmos apenas de um corpo que vive e que morre, sem uma alma que segue o seu caminho para outra esfera na busca eterna do aperfeiçoamento, despindo-se a cada passo da maldade, se tudo isto forem meras suposições, então não sei para estamos nesta bola a girar num espaço do qual não conhecemos princípio, meio ou fim.

3 comentários:

Divinius disse...

Muito giro o que escreveste e o teu blog muitos jinhos*)))))

*Um Momento* disse...

Kakauzinha...
Que sentires

Adorei o texto

Um beijo linda (*)
( Vi@)n :)))

Inês disse...

Como sabe bem termos nessas alturas uma titi Kaku!!

Kisses!
Triguinha