domingo, 19 de agosto de 2007

O meu colégio


Tinha cinco anos e meio quando tive uma das melhores experiências da minha vida.

O meu Pai levou-nos ao colégio, à minha irmã e a mim, naquele início de Outubro. Quando saí do carro fiquei extasiada ao ver a imensidão daquele edifício tão alegre, tão bonito e tão cheio de árvores, foi mesmo amor à primeira vista!

Eu não entendia nada do que a professora me dizia, apenas lhe sorria deliciada pela novidade da língua, deliciada pela sala de aula enorme e luminosa, pelas carteirinhas minúsculas, pelo recreio, enfim, por tudo.

Um ano depois já eu falava francês pelos cotovelos, esponjas que são as crianças e tudo aprendem à velocidade da luz. Ganhei muitos prémios e recordo com ternura o fecho do ano lectivo com toda a solenidade no ginásio e mais tarde no São Luís.



Foram treze anos maravilhosos e nunca houve um dia em que pudesse dizer que estava farta porque ali tudo me encantava. Lembro-me de tantas amigas, de tantos amigos, de tantas peripécias divertidas!

Adorava as aulas de ballet, de canto, de culinária, de francês, inglês e alemão, mas franzia o nariz aos Lavores e a certas modalidades da ginástica, uma delas era subir à corda. Dava-me cada ataque de riso que subia dois ou três nós e ficava-me por ali. Em contrapartida era sempre a segunda da turma no salto em comprimento, isto porque a João tinha pernas de Bugs Bunny e passava-me justamente… a perna, eheheh!

Depois dos anos da adolescência chegou a altura de pensar na carreira. Aos dezasseis anos estava decidida, seria Direito (depois mudei para Germânicas). Só que a minha vida teve um acontecimento inesperado porque o Fefas passou a fazer parte da minha turma, também ele queria ser advogado e assim lá se juntou ao pequeno bando de Letras em que as meninas predominavam e os meninos estavam em minoria.



Tivemos aulas que eram um verdadeiro papelinho, sobretudo as de Latim em que o Fefas, o Zé M, o Zé F, e o Alvarinho se divertiam a atirar bolas de papel para mim, para a Ana e para a Inô. Eles faziam questão de se sentarem nas últimas carteiras e nós levávamos com os “projécteis” na tola. O azar dos azares é que um dia uma das bolinhas foi mal calculada e parecia um meteorito a aterrar na mesa da professora. Resultado, mudámos para a cave do edifício central com carteiras numa só fila e lá se foram as infantilidades dos meninos que nos fizeram ouvir das boas. Eu cá perdia-me a rir, mas também comi por tabela, claro, noblesse oblige!

Qual foi a chave de ouro do ano lectivo de 72-73, o meu namoro com o Fefas, claro! E atingiu proporções que nenhum de nós poderia imaginar. Contrariámos, embora involuntariamente, a rígida disciplina establecida ao ser o primeiro casalinho a se atrever a andar de mãos dadas dentro do colégio.

Um dia demos de caras com o director máximo, que em francês tem o título de Proviseur. Apesar de termos ficado gelados não largámos as mãos e, pasme-se, ele passou por nós e sorriu-nos! A partir daí, e depois de contarmos o sucedido, todos os parzinhos fizeram o mesmo, mas nós recebemos o título de Par Romântico e o mais famoso do colégio. Éramos mesmo muito à frente!

Havia tanto a contar mas levaria páginas e páginas. Como epílogo fica a primeira visita a França em 71, numa viagem organizada pelo colégio que incluía antigos alunos e familiares. Os preços eram mesmo para estudantes e em território francês ficámos nas Pousadas de Juventude. A de Paris era um prédio gigantesco.


Foi a única vez que andei descalça numa cidade e foi também no Théâtre de La Porte de St. Martin que vi a peça musical Hair. O cantor principal era o “meu” Julien Clerc, um ídolo que eu seguia desde os doze anos, coleccionando as famosas revistas Salut Les Copains e Mlle Âge Tendre, época também da minha fase so so hippie, exceptuando as drogas que foi coisa que nunca experimentei porque a minha "droga"... é a night!

O colégio foi uma grande base, a todos os níveis, o meu coração terá sempre um cantinho francês e serei sempre um pouco … une enfant de la Patrie, une enfant du Lycée Français Charles Lepierre.



La plus belle pour aller danser, Sylvie Vartan

Femmes je vous aime, Julien Clerc



3 comentários:

Jasmim disse...

Humm querida kakauzinha...

É sempre uma ternura ler os teus momentos de "ontem"...

Um beijo bem doce em tu :O)**
Jasmim

kakauzinha disse...

Querida Jasmim,

O ontem ilumina o meu hoje para poder seguir para o amanhã.

Beijinhos e sorrisos****:)))

*Um Momento* disse...

vamos kakauzinha~
Dá ai a mão:)))

Beijinho
(*)