Dias da Maria

Sentávamo-nos no chão a conversar… as janelas abertas de par em par para a Esperança. O Verão da nossa Lisboa trazia-nos noites quentes que nós refrescávamos com limonada e ventoinhas que rodavam como girassóis.

Perguntávamos: “O que é que a vida vai fazer de mim?”

As respostas ficavam no ar, piscando como pirilampos. O Chico tocava no gira-discos na sala da Ani e do Serginho e eu sorria ao ouvir a letra, também queria ser a noiva do cowboy mas ele tinha de ser igual ao Robert Redford.

“Não! - dizia a Ani - tem de ser como o Gregory Peck!”

“Miúdas tolas” – resmungava o Serginho, com o nariz metido nas suas benditas pautas e sorrindo disfarçadamente. Por vezes dava-nos uma “esmola”, tocava estas músicas ao piano e a Ani e eu cantávamos, rodopiando pela sala imbuídas num espírito de Isadora Duncan.

A Vida era um mundo à nossa frente, um castelo imenso de salas repletas de todos os nossos desejos.

“Para lá deste quintal era uma noite que não tem mais fim…”